A fenda
1 min readFeb 29, 2020

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Eu preciso começar. Não que seja dolorido, mas penso que sou sempre insuficiente. E assim sendo, nem o início se sustenta.

Vai então um texto metalinguístico, que pode ser um bom lugar pra uma largada.

Cada vez que penso em escrever, penso no outro. Como todos, é claro. Penso nos outros. Penso no que vão pensar de mim. Nenhuma novidade aí. Em seguida, penso que realmente não tem nenhuma novidade mesmo. Eu não tenho nada de muito emocionante pra dizer pras pessoas. Ou tenho?

Eu escrevo uma frase, apago. Reescrevo. Procuro sinônimos pra evitar repetições. Penso nos textos que corrigi. Penso em erros e falo pra mim que são deslizes. O texto corre e eu sinto que ele está fugindo… estou indo desesperada atrás dele. Como numa imagem de sonho.

Então vem o ego. Vem atrás de mim anunciando que eu só corro atrás desse texto porque na verdade eu quero colocar o ego lá em cima. Com a ajuda do texto, é claro.

Em uma imagem escalafobética, eu consigo me ver com as mão para cima, segurando um texto imaginário e acima dele está meu ego. O ego olha pra baixo e aguarda aplausos. Onde estão os aplausos? Onde me diferencio dos outros? Como me faço mais especial que eles todes?

O ego olha pra mim. E eu meu lembro que preciso novamente correr atrás do texto. E que ele parece distante… mas ao mesmo tempo acontece a cada segundo e a cada letra digitada.

Termino aqui.

Não relerei.

Publico.

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A fenda

Divagações sobre o cotidiano. Tentativa de exercício de escrita. Poço fundo. Brecha. Ruptura. Fenda.